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segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Marias


 










Anestesiada com chantagens,

subjugada aos maus-tratos do patrão

alucinadamente despreparado

para o convívio com quem ele denominava

“empregados”.

Sorria forçosamente

ao ouvir piadinhas indecentes.

Chorava no banheiro,

na hora do almoço

que ela evitada

de tanto desgosto.

Escapulia pelos corredores da empresa,

aflita,

quando ouvia a voz do sujeito machista

a falar besteiras direcionadas às vítimas

como galanteios que enalteciam o seu ego

e metralhavam o estado emocional das mulheres

desgraciadas pelo ato

repudiado internamente

por àquelas atingidas pelas palavras nojentas

pronunciadas por um rato de gravata.

Andarilho sentimental

despeja seu lixo emocional,

dejetos de patriarcado,

em mulheres amarradas ao trabalho ingrato

pela necessidade de sobrevivência

em um sistema que acorrenta

o pobre à escassez e crueza

e o rico à abundância desmedida,

usufruindo do conforto de um cotidiano de luxo

sustentado pela miséria da sociedade

feito um fluxo

milenar e unilateral,

beneficiando apenas a ponta da pirâmide social.

 

Mulher guerreira

denuncia o abuso,

faz um grupo com as companheiras

agredidas pelo mesmo criminoso,

chantagista asqueroso,

usurpador de dignidades femininas,

impondo regras no trabalho

por ocupar verticalmente

a posição de destaque

na empresa que moralmente apodrece

comandada pelo chefe

do bando de machões

fisicamente exaltados,

emocionalmente amedrontados

diante de mulheres empoderadas.

Medo de perder o poder exercido de forma sádica

contra mulheres fragilizadas

por um sistema que perpetua desigualdades,

entre elas,

a opressão de gênero

que coloca em campo de guerra

mulheres acorrentadas

a um modus operandi segregativo

e homens com as chaves das correntes

que se arrastam por séculos de violações,

de intimidações a mortes.

Mulheres guerreiras

denunciam os agressores,

se rebelam contra os opressores,

dando visibilidade para outras vítimas

que também denunciam os abusos

sofridos simplesmente por serem mulheres.

 

Homens ricos,

homens pobres,

moralmente cínicos,

socialmente podres,

a violência tem o mesmo padrão,

a mulher é sempre a vítima

de algum machão.

 

Lei Maria da Penha,

os valentões tremem,

condenados,

às vezes, a justiça não falha,

caminham para as celas de janelas quadradas

feito um jogo de xadrez,

cujos perdedores, neste caso,

 experimentam o tamanho de sua pequenez.

 

Sorriem as mulheres,

Marias,

“juntas somos mais fortes”,

afirma uma delas,

àquela que um dia foi jurada de morte

pelo ex-namorado,

agora, enclausurado em uma cela com mais setenta,

jurado de morte por não se encaixar nas normas dos detentos.

Hoje, ela está mais forte,

trabalha e é dona da própria sorte,

destemida,

pois sabe que sua vida

é mais importante

do que qualquer relacionamento meliante,

ultrajante,

condenado a ser malfadado,

pois baseado

nas imposições do patriarcado.


Poema publicado na Revista Barbante, Volume XI – Nº 58 – 29 de janeiro de 2024, Natal, RN. 

Editores Rosângela Trajano da Silva, Samuel de Souza Mattos, Monalisa Carrilho de Macêdo.

ISSN 2238­1414

Link da Revista: https://revistabarbante.com.br/wp-content/uploads/2024/01/barbantejaneiro2024_merged2.pdf