Anestesiada com chantagens,
subjugada aos maus-tratos do patrão
alucinadamente despreparado
para o convívio com quem ele denominava
“empregados”.
Sorria forçosamente
ao ouvir piadinhas indecentes.
Chorava no banheiro,
na hora do almoço
que ela evitada
de tanto desgosto.
Escapulia pelos corredores da empresa,
aflita,
quando ouvia a voz do sujeito machista
a falar besteiras direcionadas às vítimas
como galanteios que enalteciam o seu ego
e metralhavam o estado emocional das mulheres
desgraciadas pelo ato
repudiado internamente
por àquelas atingidas pelas palavras nojentas
pronunciadas por um rato de gravata.
Andarilho sentimental
despeja seu lixo emocional,
dejetos de patriarcado,
em mulheres amarradas ao trabalho ingrato
pela necessidade de sobrevivência
em um sistema que acorrenta
o pobre à escassez e crueza
e o rico à abundância desmedida,
usufruindo do conforto de um cotidiano de luxo
sustentado pela miséria da sociedade
feito um fluxo
milenar e unilateral,
beneficiando apenas a ponta da pirâmide social.
Mulher guerreira
denuncia o abuso,
faz um grupo com as companheiras
agredidas pelo mesmo criminoso,
chantagista asqueroso,
usurpador de dignidades femininas,
impondo regras no trabalho
por ocupar verticalmente
a posição de destaque
na empresa que moralmente apodrece
comandada pelo chefe
do bando de machões
fisicamente exaltados,
emocionalmente amedrontados
diante de mulheres empoderadas.
Medo de perder o poder exercido de forma sádica
contra mulheres fragilizadas
por um sistema que perpetua desigualdades,
entre elas,
a opressão de gênero
que coloca em campo de guerra
mulheres acorrentadas
a um modus operandi segregativo
e homens com as chaves das correntes
que se arrastam por séculos de violações,
de intimidações a mortes.
Mulheres guerreiras
denunciam os agressores,
se rebelam contra os opressores,
dando visibilidade para outras vítimas
que também denunciam os abusos
sofridos simplesmente por serem mulheres.
Homens ricos,
homens pobres,
moralmente cínicos,
socialmente podres,
a violência tem o mesmo padrão,
a mulher é sempre a vítima
de algum machão.
Lei Maria da Penha,
os valentões tremem,
condenados,
às vezes, a justiça não falha,
caminham para as celas de janelas quadradas
feito um jogo de xadrez,
cujos perdedores, neste caso,
experimentam o tamanho de sua pequenez.
Sorriem as mulheres,
Marias,
“juntas somos mais fortes”,
afirma uma delas,
àquela que um dia foi jurada de morte
pelo ex-namorado,
agora, enclausurado em uma cela com mais setenta,
jurado de morte por não se encaixar nas normas dos detentos.
Hoje, ela está mais forte,
trabalha e é dona da própria sorte,
destemida,
pois sabe que sua vida
é mais importante
do que qualquer relacionamento meliante,
ultrajante,
condenado a ser malfadado,
pois baseado
nas imposições do patriarcado.
Poema publicado na Revista Barbante, Volume XI – Nº 58 – 29 de janeiro de 2024, Natal, RN.
Editores Rosângela Trajano da Silva, Samuel de Souza Mattos, Monalisa Carrilho de Macêdo.
ISSN 22381414
Link da Revista: https://revistabarbante.com.br/wp-content/uploads/2024/01/barbantejaneiro2024_merged2.pdf
