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terça-feira, 10 de agosto de 2021

Mortos em nossa subjetividade coletiva









Sorríamos freneticamente

em um mundo inventado,

compartilhado num simples toque de teclado,

esquecido logo após o like.

 

Bebíamos

feito gente desgraçada,

com comportamentos desregrados,

pensando sermos heróis rebeldes,

lutando pela liberdade

de dizer asneiras altas horas da madrugada.

 

Fingíamos

que éramos diferentes,

especiais em relação a toda gente,

imitando os mesmos comportamentos

em quadrados fechados

que transbordavam a mediocridade

de uma vida cheia de ausências.

 

Conversávamos

em tom guturais,

gesticulávamos abruptamente

por causa de eventos banais,

saciando nosso instinto

de se sobrepor a razão.

 

Mortos em nossa subjetividade coletiva,

vivíamos nossa individualidade

agrupada sem laços de empatia,

sem saber que as conversas da madrugada

enalteciam egos limitados,

engasgados em sensações fugazes.

 

Destruídos pela nossa incapacidade

de olhar além das bordas da nossa própria realidade,

observamos a vida se esvair,

cantando, aos gritos,

 uma melodia de amor não correspondido,

esperando alcançar a felicidade

com o alívio da tensão

que o cotidiano repetitivo

impregna nos corpos de seus servos mais ativos.

 

Poema publicado na Revista Cult, na seção "Lugar de Fala", em 10 de agosto de 2021

Link:  https://revistacult.uol.com.br/home/mortos-em-nossa-subjetividade-coletiva/

Imagem de Hands off my tags! Michael Gaida por Pixabay