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quarta-feira, 11 de agosto de 2021

“Homens Cordiais”

Cinco pedras lançadas na porta da casa azulada,

olhos apreensivos,

ninguém responde,

silêncio,

opressão.

 

Risos estridentes,

deboche,

piadas sarcásticas,

gritos ecoam em forma de xingamentos,

mentes perturbadas,

facínoras.













 

Turba intolerante,

ávida por sangue,

crenças falsas,

certezas frágeis,

construídas com mentiras.

Olhares fixos

no ódio ao suposto inimigo.

 

No espectro ameaçador que ronda a casa azulada,

as janelas fechadas,

as portas com trancas reforçadas,

paira uma atmosfera de medo,

angustiante,

o ar com cheiro de sangue.

O corpo trêmulo,

sentado no sofá,

apreensivo,

espera a multidão em fúria se dissipar.

 

Guerra ao diferente,

sufocamento a tudo que não é homogêneo,

padronizado em realidades inventadas,

crédulos em fantasias que retratam seres e mundos imaginários,

que condenam através do pecado,

aquilo que não pode ser julgado.

 

Julgamentos baseados em dogmas,

conduzidos pelos zeladores dos costumes,

que escondem as suas práticas espúrias,

apontando os seus dedos para outras faces.

Distorção de realidades,

condenação do que não é condenável,

elogios ao que seria inaceitável,

realidade invertida,

moral corrompida,

sangue nas mãos.

 

A turba espera,

 impacientemente,

o momento da desforra do ressentimento,

guardado em vidas vazias,

cujos desejos reprimidos

se esforçam para subverter a ordem do comportamento imposto pela religiosidade.

Mentes desvairadas

tornam assassinos àqueles que se autodeclaram abençoados,

em estado de graça,

desgraçados pela própria dádiva.

 

Fim do dia,

os cães raivosos se dispersam,

a vida respira aliviada,

o corpo exausto com a situação angustiante,

pega a estrada que vem adiante,

sem rumo,

fugindo da abominação prevalecente

em uma sociedade doente,

cambaleante,

apegada às histórias inventadas,

à força bruta

e à trapaça.


Poema publicado na #18 D-ARTE - Revista Eletrônica e Interativa Arte e Cultura, Londrina - PR, 2021.

Link:  https://dartelondrina.files.wordpress.com/2021/08/revista_d_arte_18-1.pdf

Imagem de Dimitris Vetsikas por Pixabay