Destino utópico
sonhado em vão,
pensamentos algemados
em vidas fechadas,
condenadas à solidão.
Rotina delirante,
susto com a visita inesperada,
dinâmica interrompida
pela risada debochada.
Corpo em desconforto,
desejo de escapulir
pelas frestas do pseudo-humor,
indigesto.
Pseudo-humor que satisfaz a vulgaridade
e a ausência de obviedade
nas falas alucinadas
de pessoas dopadas
pela superficialidade de desejos miseráveis,
desconectados da dura realidade
de vidas impactadas
pela morte da dignidade.
Risadas cheias de trivialidades,
sorrisos infames,
fardo da solidão interrompida
pela alcateia faminta
por vidas mendicantes
e por esperanças estraçalhadas.
Muros que separam
as risadas sórdidas,
regadas a vinho importado,
de olhares cheios de luto
e tantos sonhos
jamais alcançados.
A agonia da solidão é venturosa,
apenas por não ter que dividir os espaços
com os abutres da humanidade,
lobos devoradores da sagrada dignidade,
semeadores de dor,
ceifadores de tantas vidas
barganhadas pelo aumento
de suas contas bancárias.
Devolvam-lhe a vida solitária!
Presa na sua rotina delirante,
escravizada pela sua indiferença,
pérola no mar de desigualdades,
convicta em não tomar nenhum lado,
imaculada em seu território sagrado,
prisioneira do medo,
pássaro de asas amputadas,
mais cedo ou mais tarde,
devorado pela alcateia de lobos.
Poema publicado na revista LiteraLivre, V.4, N.23, 2020, editada por Ana Rosenrot.
Link da revista: https://drive.google.com/file/d/1vs0qmEiAfDX-eCihGLzJ3Q7bgwwtzN-W/view
Imagem de Gerd Altmann por Pixabay