Luzes cruzam o céu
em direção ao suposto vazio que ultrapassa o horizonte,
limite entre o visto e o desejado,
deixando um rastro de adeus na superfície atmosférica,
ramificando lembranças pelas bordas latitudinais,
irrigando com lágrimas a cidade adormecida,
sonhando com dias vindouros,
perseguidos com o ardor dos desesperados.
Falas e gestos ocasionais,
encontros desmarcados pelos ponteiros do acaso,
relógio que flutua numa linha imaginária e retorcida
entre passado, presente e futuro.
Aplausos para o pôr do sol
na hora estabelecida pelas leis da natureza,
tribunal da vida,
onde são julgados os atos desmerecidos
de reconhecimento divino.
Vivência efêmera,
sentido desconstruído
pelas ironias da vida.
Pausa para a dor,
experimento de falhas humanas
ou teste do além-vida,
delimitando nichos
na continuidade da existência,
palco de insurgências
comandadas por rebeldes
sem afinidades com o poder autoritário.
Guia dos desencontrados,
direcionamento dado por pés alados,
esquinas cheias de ilusões,
de brindes esporádicos
e canções nostálgicas.
Vozes espalhadas pelas calçadas,
fluxos de lábios dinâmicos,
ora se encontram em beijos calientes,
ora se afastam aos gritos de desgraçados.
Luzes que percorrem o céu da cidade,
mistura de eternidade e efemeridade,
início e fim de jornada.
Benção, Universo!
A resposta é uma incógnita,
nem sempre esperada,
talvez,
indesejada,
mas sempre chega
pelo sopro do vento
ou pelo raio no meio da estrada.
Poema publicado na revisa Ecos da Palavra, nº 19, 2024, Porto, PT.
Link da revista: https://drive.google.com/file/d/1JucujmsNi1d7ZAWbEVGR6GWl7bLSjgtD/view?pli=1
