sorriem das lágrimas alheias,
satisfazem-se nas espoliações de miseráveis,
cercados por grades de exclusão,
abandonados em bolsões de indigência,
sem água,
sem comida,
nem dignidade.
Calculam seus lucros em bolsas de valores,
corpos sem faces,
identificados por números,
sobe ou desce,
despacho para o paraíso
ou delibero para o inferno,
na terra dos suplícios,
mortes são iguais a dólares,
avaliam o sorriso do rentista
e a penúria dos abandonados pelo Estado,
a balança pende a favor dos endinheirados.
“Só mais um infeliz”,
afirma sarcasticamente
o milionário com sorriso de ouro,
metal nos dentes,
vazio no peito
e uma ganância que beira ao desespero.
Coroa de espinhos pelo corpo,
mais um pobre imolado pelo neoliberalismo
que o apresenta como mártir,
apregoando a crença de que os sacrifícios dos humildes
salvam a humanidade.
Os velhos endinheirados riem da situação caótica,
afundados em poltronas de couro,
fumando charutos,
quanto maior a quantidade de pobres,
mais dólares nas suas contas bancárias.
As madames escolhem as jóias mais caras
para enfeitarem seus corpos
em cima de cadáveres.
É a lógica do capital,
os poucos têm muito,
os muitos pouco tem,
na perversidade diária
camuflada pelos jornais,
a culpa é da humanidade
e dos sete pecados capitais,
atribuídos somente aos pobres,
pois os ricos são perdoados nos seus paraísos fiscais.
Schadenfreude,
regozijamo-nos na tua desgraça,
cotidianamente estampada na lida diária,
nos jornais escritos e falados,
esfregada todos os dias nas nossas caras,
através da putrefação da moralidade dos endinheirados,
na neblina que cobre a alma das senhoras abastadas,
encarceradas em suas futilidades,
preocupadas com as roupas e os jantares pseudobeneficientes,
caridade ao invés de solidariedade.
Schadenfreude,
alegramo-nos com a tua tristeza,
beneficiamo-nos da tua pobreza
em bazares de caridade,
vendendo obras de arte,
as quais não entendemos o significado,
para alimentar os desvalidos,
desprovidos de dignidade.
Schadenfreude,
deleitamo-nos com os golpes que a “vida” te desferiu,
causamos a tua miséria material
através de nossa mendicância espiritual,
abrindo espaço para o golpe final,
tua morte física,
nossa falência moral.
O poema Schadenfreude recebeu menção honrosa da Revista Inversos, Volume IV, Número 18, em 10 de Dezembro de 2021.
Link da Revista Inversos: https://drive.google.com/file/d/11nXdQBzSquczxy52gHQDp7jFnJqe7X6J/view
Imagem de Ryan McGuire por Pixabay