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quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Áspera Realidade



Saída de túmulos de sentimentos

forjados no ressentimento,

traições e pesadelos

em constante afrontamento

à face suave de uma eternidade sem graça.

 

Beliscões no braço para sentir a realidade,

costume popular,

receio de mergulhar na loucura,

no “fora de si” não aceito

em uma sociedade que grita

e bate no peito,

julgando-se perfeita.

 

Surra o corpo aviltado pelo descaso,

ignorado em dias de frio,

jogado ao relento, gelado.

Morre um sonho em cada lágrima

que escorre pelo rosto,

de lado,

fazendo caminhos que expressam a desgraça

de uma vida abandonada.

 

Nasce um sonho

em uma caneca quente de café com leite,

na madrugada fria,

trazida pela consciência coletiva

de almas em harmonia com a vida.

O calor aquece o corpo,

reaviva memórias,

os lábios contam histórias

de passados felizes

e de vivência tristes

relegadas às calçadas.

A mulher sorri,

a comida chegou,

vem com um pouquinho de amor,

esquenta o espírito

dos refugiados da vida.

 

O homem se aproxima e sorri,

compara a vida de antes

com a sobrevida acumulada

em confrontos com a polícia

e brigas por espaços

que não deveriam ser disputados.

Guerra de rua,

sobrevive quem for astuto,

quem tiver as mãos ligeiras,

os ouvidos tampados

quando olhar para o lado

e a fala modulada

de acordo com a áspera realidade.


Imagem de Myriams-Fotos por Pixabay