Saída de túmulos de sentimentos
forjados no ressentimento,
traições e pesadelos
em constante afrontamento
à face suave de uma eternidade sem graça.
Beliscões no braço para sentir a realidade,
costume popular,
receio de mergulhar na loucura,
no “fora de si” não aceito
em uma sociedade que grita
e bate no peito,
julgando-se perfeita.
Surra o corpo aviltado pelo descaso,
ignorado em dias de frio,
jogado ao relento, gelado.
Morre um sonho em cada lágrima
que escorre pelo rosto,
de lado,
fazendo caminhos que expressam a desgraça
de uma vida abandonada.
Nasce um sonho
em uma caneca quente de café com leite,
na madrugada fria,
trazida pela consciência coletiva
de almas em harmonia com a vida.
O calor aquece o corpo,
reaviva memórias,
os lábios contam histórias
de passados felizes
e de vivência tristes
relegadas às calçadas.
A mulher sorri,
a comida chegou,
vem com um pouquinho de amor,
esquenta o espírito
dos refugiados da vida.
O homem se aproxima e sorri,
compara a vida de antes
com a sobrevida acumulada
em confrontos com a polícia
e brigas por espaços
que não deveriam ser disputados.
Guerra de rua,
sobrevive quem for astuto,
quem tiver as mãos ligeiras,
os ouvidos tampados
quando olhar para o lado
e a fala modulada
de acordo com a áspera realidade.
Imagem de Myriams-Fotos por Pixabay