Traços na parede da casa abandonada,
sinais de comunicação conservados pelo tempo,
restos de afetos,
o que sobrou dos instantes
vividos momentaneamente
em espirais abertas em dimensões paralelas.
Custo do esquecimento:
a tristeza que se tornou tormento,
permanente,
dobra os joelhos de indivíduos mais resistentes.
Afago da saudade
ao percorrer os corredores da casa,
o quarto intocado,
a cozinha que ainda conserva o aroma do café
que se espalhava feito cheiro de chuva
trazido por alguma divindade.
Celular velho na cômoda,
cartas abertas,
lidas com paciência,
uma delas contém um poema
escrito há uma eternidade
do presente.
Frases espalhadas pelo papel,
já amarelado,
corroído pelas lembranças
que enterraram a esperança,
dia a dia,
no caixão da melancolia.
Para e atenta para o vento que mexe nas folhas das árvores,
como se fosse um espírito travesso,
a semear medo
por onde passa.
Instantes,
somos apenas breves,
de ocasião,
foi assim comigo,
parece ter sido assim com você,
esquecidas depois de uma noite de sorrisos.
Determinadas,
um ponto nas linhas curvas do tempo,
espiraladas feito meus pensamentos,
enigmáticas feito seus olhos
a me perscrutar por dentro.
Insistente,
assim é a dor de quem sente algum tipo de ausência,
percorre calmamente o interior de cada aposento
de uma casa vazia
feito minha alma a chorar de nostalgia.
Imagem de Stefan Keller por Pixabay


