Transbordam as lágrimas nos olhos petrificados,
o carro dobra a esquina,
tempo infindável,
a espera será contínua.
Sol de verão na estrada serpentina,
pés descalços,
o ar condicionado não refresca a ebulição de sentimentos,
encaracolados em pensamentos inquietantes,
avulsos na solidão da viagem sem volta.
Motorista absorto nas manobras de linhas curvilíneas,
vegetação vibrante
contrasta com o silêncio penetrante,
interlocutores trancados em celas anônimas,
esperando a redenção de um gesto comunicativo,
humanamente afetivo,
sem cobranças indevidas,
apenas um passo para uma interação casual.
Garrafa de água na temperatura ambiente,
o rosto se volta para fora,
janela aberta,
vento rodeia a face cansada,
arrisca brisar os cabelos em liberdade,
enquanto as memórias seguem o percurso rotativo,
passado e presente,
excluindo o futuro dos murmúrios indecentes
dos arrependimentos guardados no tempo.
Solavanco que mexe o corpo distraído,
sorrisos inesperados,
olhares indagativos,
era só uma lombada,
a cidade tão esperada
consumiu o caminho que ficou no passado,
sinuoso em forma de S,
Solitário feito Saudade.
Foto de Andrea Piacquadio by Pexels

