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sexta-feira, 14 de abril de 2023

Solitário Feito Saudade












Transbordam as lágrimas nos olhos petrificados,

o carro dobra a esquina,

tempo infindável,

a espera será contínua.

 

Sol de verão na estrada serpentina,

pés descalços,

o ar condicionado não refresca a ebulição de sentimentos,

encaracolados em pensamentos inquietantes,

avulsos na solidão da viagem sem volta.

 

Motorista absorto nas manobras de linhas curvilíneas,

vegetação vibrante

contrasta com o silêncio penetrante,

interlocutores trancados em celas anônimas,

esperando a redenção de um gesto comunicativo,

humanamente afetivo,

sem cobranças indevidas,

apenas um passo para uma interação casual.

 

Garrafa de água na temperatura ambiente,

o rosto se volta para fora,

janela aberta,

vento rodeia a face cansada,

arrisca brisar os cabelos em liberdade,

enquanto as memórias seguem o percurso rotativo,

passado e presente,

excluindo o futuro dos murmúrios indecentes

dos arrependimentos guardados no tempo.

 

Solavanco que mexe o corpo distraído,

sorrisos inesperados,

olhares indagativos,

era só uma lombada,

a cidade tão esperada

consumiu o caminho que ficou no passado,

sinuoso em forma de S,

Solitário feito Saudade.


Foto de Andrea Piacquadio by Pexels

https://www.pexels.com/pt-br/foto/cortar-mulher-despreocupada-com-as-pernas-para-fora-da-janela-do-carro-3756167/

  

domingo, 2 de abril de 2023

Espaço Reservado para Pensamentos Inconstantes

Cruzes fincadas nos pés de uma árvore,

mortes confirmadas de sonhos irrealizáveis,

cortinas empoeiradas na casa velha,

cheirando a mofo do passado.


Vitrola tocando a música das esferas celestes,

equilíbrio perfeito entre a coragem e o medo,

rodas de olhares curiosos

se revezam na posição de observadores,

tomados pelo desejo

de serem invadidos pela

 ardência da vida,

pulsando em escala máxima.


Corpo de brisa invade a casa,

tocando corpos de pessoas ainda em transe,

delirando momentos,

devaneios em contradição com a exatidão impossível,

guerra entre o destino e o livre-arbítrio,
consolidação de ideias ausentes

no espaço reservado para pensamentos inconstantes.

 

Mãos dedilhando arpas douradas,

luzes de inverno em plena madrugada,

choro reprimido pela amargura da vida,

explode em lágrimas de afeto

incontidas pelo momento tão esperado,

lado a lado,

com um coração latejante

e lábios desejantes de passado,

a observar-te,

presos no presente do teu sorriso cálido.

 

Poema publicado na Revista LiteraLivre, V. 7, N. 38, Março/Abril de 2023.

Link da Revista: 

https://drive.google.com/file/d/1SVBk91JJrG2NmG9y3lGsmNRRakP1bHI8/view