Era noite,os pés arrastavam poeira da estrada
ao entrar na casa,
em uma rua vazia e abandonada.
As corujas avisavam a solidão da noite,
há intrusos no espaço de isolamento
que separa os corações atormentados
dos dias graciosos e ensolarados.
O jornal aberto no sofá da sala,
na página 10,
tinha notícias de morte e renascimento,
superação e esquecimento.
O bule de chá parecia que ainda estava quente,
ilusão criada pelo torpor da mente,
em um olhar de arranha-céu,
cansada de tanta gente.
Acendeu um cigarro,
sim, ainda fumava.
Repreendeu a si mesma,
mas tragou e sorriu,
livre dos olhares,
consigo somente os prazeres condenáveis.
Sentou no sofá,
suspirou profundamente,
precisava de um banho quente,
reavivar as memórias
de quem tinha se esquecido
de que tinha muitas histórias.
Uma lágrima escorreu pelo seu rosto,
devagar,
foi fazendo o caminho da tristeza,
desenhando com delicadeza
as emoções guardadas,
reprimidas e renegadas
por tantos anos
domesticadas.
Os fantasmas daquela casa
surgiram das suas lembranças,
alguns sorriam,
outros choravam,
procurando consolo,
cantando a esperança
nas cinzas do passado.
Abriu os olhos,
o telefone tocava,
era ela,
estava chegando
depois de uma longa viagem.
Foto de Aleksandr Burzinskij no Pexels
Foto de Ekrulila no Pexels