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sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Desilusão














Apaguei os meus rastros,

perdi-me dos meus passos,

e em meio a tanto cansaço

busquei alento no devir.

Despojei-me do seu sorriso,

parei na beira do abismo,

olhei procurando o infinito

em busca do silêncio dos desejos irrealizáveis.

Mergulhei na imensidão de tudo.

Senti arder na pele a intensidade dos sonhos.

Transbordei o finito da sua realidade,

agarrei-me ao contínuo querer.

Voltei para o recanto dos suspiros saudosos.

Sentei-me de frente para a solidão.

Vi minha vida ser arrebatada

por uma imensa desilusão.


Foto de Tom Verdoot no Pexels

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Desterro

O som das notas frias

da canção que ecoava nostalgia

a inundar aquela casa vazia,

inibia,

com ar gélido e sereno,

qualquer tentativa de empatia

que minhas lembranças suscitariam

ao olhar seus lábios sorrindo

para o infinito.

Enquanto os olhos da minha mente

observavam, dormentes,

a sua felicidade insana,

eu corria dos meus erros,

longe dos seus desesperos,

sozinha no meu desterro,

perdida nas indagações

e nas incompatibilidades das nossas ilusões.


















Foto de ricardo rojas no Pexels

Foto de Laurentiu Robu no Pexels

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Depois de uma longa viagem

Era noite,

os pés arrastavam poeira da estrada

ao entrar na casa,

em uma rua vazia e abandonada.

 

As corujas avisavam a solidão da noite,

há intrusos no espaço de isolamento

que separa os corações atormentados

dos dias graciosos e ensolarados.

 

O jornal aberto no sofá da sala,

na página 10,

tinha notícias de morte e renascimento,

superação e esquecimento.

 

O bule de chá parecia que ainda estava quente,

ilusão criada pelo torpor da mente,

em um olhar de arranha-céu,

cansada de tanta gente.

 

Acendeu um cigarro,

sim, ainda fumava.

Repreendeu a si mesma,

mas tragou e sorriu,

livre dos olhares,

consigo somente os prazeres condenáveis.

 

Sentou no sofá,

suspirou profundamente,

precisava de um banho quente,

reavivar as memórias

de quem tinha se esquecido

de que tinha muitas histórias.

 

Uma lágrima escorreu pelo seu rosto,

devagar,

foi fazendo o caminho da tristeza,

desenhando com delicadeza

as emoções guardadas,

reprimidas e renegadas

por tantos anos

domesticadas.

 

Os fantasmas daquela casa

surgiram das suas lembranças,

alguns sorriam,

outros choravam,

procurando consolo,

cantando a esperança

nas cinzas do passado.

 

Abriu os olhos,

o telefone tocava,

era ela,

estava chegando

depois de uma longa viagem.

















Foto de Aleksandr Burzinskij no Pexels

Foto de Ekrulila no Pexels